segunda-feira, 31 de março de 2008

Bovespa fecha em alta de 0,85%, mas amarga 4% de perda em março

A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) fechou nesta segunda-feira com alta, recuperando fôlego na parte final do pregão. Assim, voltou a se colar no mercado americano.

O Ibovespa --principal indicador da Bolsa paulista-- avançou 0,85%, a 60.968 pontos. O giro financeiro foi de R$ 4,79 bilhões, menor do que a média diária do ano de R$ 6 bilhões, com cerca de 172 mil negócios realizados. Já o dólar comercial fechou com avanço de 0,57%, sendo vendido a R$ 1,753.

No acumulado do mês de março, a moeda americana se valorizou 3,67%, enquanto que o Ibovespa amargou recuo de 4,57%.

As perdas do mês foram resultado do agravamento da crise econômica americana. Ao contrário dos meses anteriores, os preços das commodities pararam de subir devido ao enfraquecimento do dólar ante outras moedas e recuaram, já temendo uma menor demanda dos Estados Unidos. Como as principais ações negociadas na Bovespa são de exportadoras de matérias-primas, o Ibovespa tende a sofrer mais do que indicadores de Bolsas de países desenvolvidos.

As Bolsas européias tiveram o mesmo problema, ampliado pela influência da crise do crédito imobiliário de alto risco ("subprime") americano nas instituições financeiras locais, e fecharam com o pior desempenho trimestral desde 2002.

Boa parte da retomada dos ganhos no final do pregão de hoje foi causada pelos papéis mais líquidos da Bovespa, a Vale e a Petrobras. Eles oscilaram durante todo o dia, e só se consolidaram com ganhos acima de 1% na última hora de negociação. Petrobras PN subiu 1,9%, Petrobras ON ganhou 1,73% e as duas ações da Vale --ON e PNA-- ganharam 1,17%.

Antes dessa retomada final, o pregão estava turbulento devido aos temores de aumento na taxa de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Econômica) do Banco Central.

"Há uma expectativa de que os juros comecem a subir, o mercado já está posicionado para isso", aponta Eduardo Roche, gerente de análise da Modal Asset Management. "Os dados de conjuntura [da indústria divulgados pela Fundação Getúlio Vargas] mostra que pode ser necessário aumentar os juros para segurar o consumo."

Os juros em alta prejudicam principalmente empresas que tem no mercado interno seu principal público-alvo. É o caso, por exemplo, de companhias aéreas, construtoras e comércio em geral. Papéis da Gol, Gafisa, América Latina Logística e Cyrela despontaram entre as maiores baixas do dia entre as ações listadas no Ibovespa.

EUA

O mercado americano reagiu positivamente ao indicador de produção na região de Chicago --uma das mais industrializadas do país-- feitos pelo ISM (Instituto de Gestão de Oferta, na sigla em inglês). O índice subiu para 48,2 pontos em março, contra 44,5 pontos em fevereiro. O mercado esperava que ficasse em 46,7 pontos. Os dados nacionais de produção manufatureira saem na terça-feira.

Com a notícia, o mercado se acalmou um pouco sobre a desaceleração econômica americana e sobre problemas relacionados à crise do crédito subprime. Papéis do Citigroup, Merrill Lynch e Washington Mutual apontam altas.

O índice Dow Jones avançou 0,38%, enquanto que o tecnológico Nasdaq Composite teve ganho de 0,79%.

O governo americano ainda apresentou um projeto com um pacote de regras para o setor financeiro. A proposta mudará como o governo americano controla centenas de negócios, desde os maiores bancos do país e investimentos bilionários no setor imobiliário até o sistema de seguros e hipotecas. Porém, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, admitiu que tais medidas só devem fazer efeito no longo prazo.

Na outra ponta, as ações das farmacêuticas Schering Plough e Merck despencam depois que uma pesquisa mostrou que o remédio Vytorin --produzido pelas duas empresas-- não possui efeito mais poderoso no combate ao colesterol ante remédios mais baratos e que já estão no mercado. Os papéis da Schering Plough, por exemplo, foram os mais negociados na Bolsa de Valores de Nova York e fecharam com perda de 25,9%.

Europa

As Bolsas européias seguiram na mesma toada do Ibovespa, mas como fecham mais cedo elas encerraram o pregão de hoje em baixa. Assim, confirmaram o pior desempenho de um trimestre em mais de cinco anos. Pesaram o desempenho de ações dos bancos e a redução da recomendação da Vodafone, cujos papéis cairam mais de 3%, além dos temores sobre a crise de crédito nos EUA.

Na Bolsa de Londres, o índice FTSE-100 subiu 0,16%, a 5.702,10 pontos --no trimestre, o FTSE-100 acumulou queda de 13%. Em Frankfurt, o DAX perdeu 0,382%, a 6.534,97 pontos. Já em Paris, o CAC-40 teve alta de 0,24%, para 4.707,07 unidades.

Investidores esperam fala de Bernanke nos EUA


Em tempos de elevada incerteza, cada indicador econômico ou notícia veiculada afetam bastante o humor dos investidores. Tem sido assim nas últimas semanas e, segundo especialistas, as informações divulgadas continuarão determinando o comportamento do mercado nos próximos dias. "Ou seja, ainda há muita volatilidade à frente", diz Alessandra Ribeiro, analista da Tendências Consultoria.

Os índices de atividade do setor industrial e do setor de serviços, medidos pelo instituto ISM, estão entre os principais dados a respeito da economia dos EUA a serem divulgados nesta semana, juntamente com a taxa de desemprego.

O indicador referente à atividade manufatureira sai amanhã. A estimativa da maior parte dos economistas é a de que em março ele tenha caído para 47,5 pontos, contra 48,3 pontos no mês anterior.

Na quinta-feira, sai o índice do segmento de serviços. Espera-se que ele tenha recuado para 48,5 pontos neste mês. Em fevereiro, estava em 49,3 pontos. Pontuações acima de 50 pontos indicam uma expansão da atividade e, abaixo, retração. "Os números já estavam ruins há um mês e agora devem piorar", comenta Alessandra.

O relatório acerca do nível de emprego será divulgado na sexta-feira. Em fevereiro, a taxa de desemprego tinha ficado em 4,8% e a previsão é de um avanço para 5% em março. "O consenso entre os economistas é de que tenha havido uma redução de 50 mil postos de trabalho no período, o que mostra o rápido enfraquecimento do mercado de trabalho."

Na quarta-feira, o presidente do Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano), Ben Bernanke, fala sobre as perspectivas para a economia americana diante de um comitê do Congresso. Como a última reunião do comitê de política monetária da instituição aconteceu há apenas duas semanas, não se espera que ele vá dizer muitas novidades.

"Bernanke deve ressaltar que há fortes riscos para a atividade, diante da contração do setor imobiliário e da falta de crédito. No entanto, vai tirar um pouco o peso da taxa de juros, pois a política monetária não resolve tudo", opina a analista da Tendências. Mesmo assim, os investidores ainda esperam um corte de juros adicional de 0,25 ponto percentual --o que levaria a taxa básica dos EUA para 2% ao ano- no próximo encontro do Fed, no final de abril.

Os investidores também estarão atentos aos grandes bancos e instituições financeiras. O americano Bear Stearns quase quebrou e ainda há temores de que outros também estejam em situação complicada devido às perdas com a crise hipotecária.

A Bolsa de Valores de São Paulo tem sofrido menos com os solavancos na Bolsa de Nova York, porém o pessimismo em Wall Street prejudica a sua capacidade de recuperação. Embora tenha avançado 2,48% na semana passada, ainda acumula queda de 5,38% em 2008. De acordo com a avaliação de especialistas, o mau humor igualmente deve segurar o dólar comercial acima de R$ 1,70.

Quanto à economia brasileira, os números mais esperados são os referentes à produção industrial de fevereiro, que saem na terça. Depois de um crescimento de 1,8% em janeiro, as previsões são de baixa de 0,6%.

O debate sobre o grau de aquecimento da atividade doméstica continua. Já está embutido nos preços das ações de empresas brasileiras uma elevação da taxa de juros, que não se vislumbra ainda quando poderia ocorrer. A alta afetaria os ganhos das companhias por frear o consumo e aumentar o custo de capital.